ONE UP ON WALL STREET - PARTE 2.B
- danielagmportela
- 12 de mar. de 2022
- 8 min de leitura
Surge no seguimento da PARTE 2.A
Se já chegaste até aqui, significa que já sabes identificar cada um dos tipos de Ação, de acordo com os critérios do Peter Lynch, e será importante agora, analisar alguns números que ele considera relevantes no seu livro.
Vamos a isso!

NUMEROS IMPORTANTES
Métricas que vale a pena considerar segundo Lynch.
01 - % das Vendas
Verificar a % das vendas em cada segmento do negócio.
(P.198)
02 – P/E RATIO (PER)
(P.199)
“The P/E ratio of any company that’s fairly priced will equal it’s growth rate.” – refere-se ao growth rate em earnings (e não em revenue).
"Se o P/E da Coca Cola é 15 será esperado que a empresa cresça cerca de 15% ao ano.
Se o P/E estiver abaixo do Growth rate estarás perante uma pechincha.
Caso não saibas diretamente a % do Growth rate podes calcular analisando os earnings num ano e no ano seguinte."
Tomando dividendos em conta:
Long term Growth rate (GR) = 12
DY = 3%
P/E = 10
(12+3)/10 = 1.5
Tabela mágica do Peter Lynch:

O Fabuloso seria se a empresa apresentasse estes números:
GR = 15
DY = 3%
P/E = 6
03 – CASH POSITION
O autor fala do exemplo da Ford e como a elevada cash position o convenceu a manter a ação num momento difícil.
04 – A DIVIDA
(P. 201)
Lynch dá-nos o exemplo da Ford (com números da época, claro).
Debt Vs Equity (Quanto deve Vs Quanto ganha)
O Balance Sheet tem 2 colunas:

Quadro 1
DEBT TO EQUITY RATIO
Total stockholder’s equity = 18,492 B
Long term debt = 1,7B
Short term (ignorar se houver cash suficiente para a cobrir)
Um BALANCE SHEET normal tem 75% equity e 25% de debt
No caso da Ford, tinha à data, 18,492 B para 1,7 B, ou 91% equity e menos de 10% de debt.
Quando as empresas são Turnarounds tem de se dar especial atenção à divida.
É a divida que vai determinar, em última instância, numa crise, se a empresa vai sobreviver.
Companhias jovens com muita dívida têm sempre mais risco.
NOTAS IMPORTANTES SOBRE O FINANCIAMENTO DA DIVIDA
- BANK DEBT
Divida bancária ou papel comercial (empréstimos de uma empresa para outras), via banco, num curto período de tempo são formas de divida complicadas, porque podem pedir o $ de volta e se a empresa não pagar na hora. Avançam os credores, e não fica nada para os acionistas.
- FUNDED DEBT
É a melhor forma de dívida para o acionista porque não pode ser chamada, desde que o financiado (devedor) pague o juro. O principal pode não ter que ser pago nos próximos 15, 20 ou 30 anos.
Exemplo: Corporate Bonds com longa maturidade. Estes pagamentos do principal podem mesmo ser deferidos.
Estrutura da divida
Quantidade da divida
Dá-nos ainda o exemplo da MICRON e como sobreviver à divida.
05 – DIVIDENDOS
A empresa com excesso de cash tem tendência a sentir a pressão de o gastar, e normalmente gastam em aquisições, as quais mais “diworseficam”, do que diversificam.
Nota: DIWORSIFICATION - termo pejorativo para certo tipo de diversificação, inventado por Lynch.
A presença do dividendo pode impedir a stock de cair tanto, como se não distribuísse o dividendo. No wipeout de 1987, as empresas pagadoras de dividendos sofreram menos de metade da queda do mercado. Por isso, Lynch gosta de ter algumas Stalwarts e mesmo Slowgrowers no portefólio.
Quando o preço cai, o seu DY sobe, comprando a ação vai introduzir um suporte no preço.

COMENTARIO PESSOAL – OS DIVIDENDOS IMPORTAM
Também Warren Buffett segue a mesma estratégia que Peter Lynch em manter na sua carteira, ações pagadoras de dividendos, e vai mais longe, ele negoceia diretamente com as empresas, comprar ações preferenciais, com direito a dividendos especiais, mais elevados que o DY para o acionista comum. Ambos mantém nos portefólios da Berkshire e Magellan, respetivamente, ações pagadoras de dividendos!
A Berkshire Hathaway não paga dividendo aos sues acionistas, é um facto, mas é uma excelente coletora de dividendos, oriundos de grandes empresas pagadoras de elevado Yield. Como disse, tal é a sua importância, que são pré-negociados a um Yield mais elevado, e depois, esses biliões recebidos em dividendo são usados para comprar mais ações, ou para ficar de parte para fazer grandes alocações com os mercados em baixo (Timming the market), sem que isso implique capital fresco dos investidores para aumento do NAV dos portefólios sob gestão, o que irá aumentar o retorno do fundo. No final, os dividendos e o retorno gerado pelo reinvestimento dos dividendos vão junto no aumento da rentabilidade da empresa gestora, números esses que interessam apresentar ao investidor final, que nela investe – ao investidor da Berkshire e ao investidor da Magellan.
Concordo que:
- Não se deve investir em empresas exclusivamente pelo facto de pagarem dividendos. Importa sim os fundamentos dessas empresas.
- Não perseguir o DY, sendo que apenas será mais um aspeto a considerar na avaliação da empresa e o DY pode variar, inclusive ser cortado.
Compra de ações para receber dividendos segundo Peter Lynch :
- Saber que empresas poderão pagar o dividendo durante uma recessão (maus tempos).
- Empresa que tenham regularmente aumentado os dividendos em 20-30 anos. As cíclicas não costumam cumprir com essa regularidade.
06 - BOOK VALUE
(P.207)
As pessoas acham que esta métrica popular por ser fácil de encontrar, e acham que se o BV é 20 e a ação cota a 10 então estarão a comprar a empresa por metade do preço.
A falha disto é que o BV tem pouca relação com o real valor da empresa. Uma empresa pode ter maquinaria avariada, obsoleta ou que não sirva para nada. Pode ter um armazém cheio de tecido que ninguém quer e o valor dessas coisas consta nos livros. As coisas estão avaliadas por X, mas não as consegues vender a esse preço, principalmente quando precisares numa liquidação. Será sempre por menos.
Quanto mais próximo está do produto final na sua fase de produção, mais difícil é saber o seu exato preço de revenda.
Exemplo de Buffett com a fábrica de têxteis da New Bedford: O BV de 866M com brutas maquinarias, mas em leilão publico valeu 163M em cash real.
O BV pode ser ratoeira também nisto:
400M em assets e 300M em divida, daria um BV de 100M. A parte da divida sabemos que é real, mas a parte dos assets… se a empresa estiver perto da falência pode fazer passar os 400M para 200M por exemplo e o BV passaria a ser -100M. (P.208)
Exemplo da RADICE, uma construtura da Florida: Em resultado das estranhas formas de contabilização do Real Estate, os juros que deviam sobre a divida, foram contabilizados como um “asset” até que o projeto fosse completamente vendido.
AVISO DE LYNCH: Quando compras a stock pelo seu BV, tens de ter um detalhado entendimento do que esses valores representam exatamente.
Na Penn Central, tuneis nas montanhas e carruagens dos comboios não usadas contam como assets!
07 - MORE HIDDEN ASSETS
(P. 209)
Assim como o BV exagera para mais o verdadeiro valor, também pode exagerar para menos o verdadeiro valor. É aqui que se encaixam as Asset Plays:
Empresas que detém recursos naturais como terrenos, madeira, petróleo ou metais preciosos podem carregar esses assets no book a uma fração do seu verdadeiro valor.
Valor que não é refletido nos livros:
- Patentes de drogas farmacêuticas
- Franshises TV cabo
- Branding
Se pagares 450M por uma coisa que estava no book a 100M, esses 350M quando a empresa transitar para o novo dono vai valer 350 de Goodwill. O Goodwill entra nos livros como um asset. Após 1960 mudaram as regras na contabilidade no Estados Unidos, e considera-se o valor intangível.
Por exemplo, Coca Cola Enterprises, uma nova empresa que a Coca Cola criou para o engarrafamento, acima, e para além do custo das fábricas, inventário e equipamentos, tem o valor intangível das franquias.
Segundo as novas regras pós 1960, a Coca Cola tem que registar este Goodwill a zero nas próximas 4 décadas, quando na realidade o valor destas franquias aumenta já no final do ano.
A Coca Cola Enterprises está a punir-se a ela própria nos seus próprios ganhos, porque existe este hidden asset.
Também há valor escondido em ter uma patente de um medicamento, que nos próximos 17 anos ninguém poderá replicar. O dono da patente pode modificar e melhorar a droga e manter a patente por mais 17 anos!
Outro exemplo nesta categoria são empresas que tem ações de outras empresas.
Empresas americanas com parte que pertence a um dono ou participação na Europa. Por exemplo a Food Lion tem 25% que pertence à Delhaize da Bélgica. Hoje, Ahold Delhaize, uma empresa holandesa cotada em Amsterdão.
Taxbreaks em turnarround companys - porque os tax loss transitam, as empresas não tem que pagar impostos sobre os lucros das novas operações que estaria prestes a adquirir.
08 - CASH FLOW
(P.213)
Aqui se vê quanto gastam para ganhar dinheiro. Empresas que não dependem de capital spending.
1 stock de $20 com $2 por share, em cash flow anual tem um rácio de 10 para 1.
10% de retorno em cash corresponde ao mínimo esperado para manter uma ação para longo prazo.
FREE CASH FLOW é o que interessa, segundo a perspetiva de Peter Lynch. É o que resta depois de ter saído o normal capital spending.
09 - INVENTARIOS
(P.215)
Quando os inventários crescem mais que as vendas é mau sinal.
Há duas formas de avaliar os inventários. A LIFO e a FIFO.
10 - GROWTH RATE
Crescer a 30% ao ano é muito difícil de manter 3 anos seguidos, muito mais a 10 anos.
THE BOTTOM LINE
Profit before taxes, ou “pretax profit margin” é uma métrica:
O que resta das vendas, depois de retirados todos os custos, incluindo depreciação e juros etc… terem sido deduzidos
Uma empresa com as maiores profit margins, é por definição as que tem menos gastos com custos operacionais e tem maior probabilidade de sobreviver, se o negócio se deteriorar.
FASES DAS EMPRESAS
(P. 222)
01 – START UP --- kick off
02 – RAPID EXPANSION --- expansão para novos mercados
03 – MATURE PHASE --- não é fácil continuar a expandir
A fase 02 é a mais segura para o investidor.
Exemplo da Texas AIR (Airlines são uma indústria cíclica precária, segundo o autor). Peter entusiasmou-se com o preço da stock a subir e descurou a deterioração dos fundamentos. Airlines e restaurantes basta pouca coisa (reputação) para arruinar um negócio de muitos anos.
Indústrias com uniões laborais o autor considera a evitar.
THE FINAL CHECKLIST
(P. 225)

01 – AÇOES NO GERAL
P/E ratio é alto ou baixo comparar com stocks da mesma indústria.
Ownership: poucos institucionais é melhor
Se insiders compram, ou se há buybacks
Record of earnings e se são ganhos consistentes (deveras importante na Asset Play)
Balance Sheet forte? Debt to equity ratio.
Cash position por share
02 – SLOW GROWERS (DIVIDEND PLAY)
O Pagamento do dividendo é constante e crescente YOY?
Qual o payout ratio? (que percentagem dos earnings vai para o dividendo)
03 – STALWARTS
P/E
Diworsification pode reduzir os earnings no futuro
Long term growth rate (GR)
Como se tem portando nas recessões?
04 – CICLICAS
Inventários e supply demand, ver novas entradas no mercado (podem ser perigosas).
Antecipar a redução do P/E ao longo do tempo, enquanto o negócio recupera, e os investidores olham para o fim do ciclo quando o pico dos earnings é alcançado. É muito mais fácil prever uma rutura do que um downturn.
05 – FAST GROWERS
Ver se o produto que é suposto trazer mais para a empresa, se é a maior parte do negócio dessa empresa.
Growth rate nos anos recentes de 20-25% e
Se o sucesso foi alcançado em várias zonas geográficas por forma a avaliar se a expansão é possível.
Ver se tem espaço para crescer.
Se o P/E = GR ou anda lá próximo.
Se a expansão está a acelerar ou a contrair
Se institucionais e analistas estão fora.
06 – TURNAROUND
(P.230)
Pode sobreviver aos seus credores?
Quanto cash tem? Quanta divida e qual a estrutura da divida?
Como é suposto que dê a volta?
Vai libertar segmentos menos bons do negócio? Exemplo da Lockheed e da Texas Instruments.
O negócio está a voltar?
Custos estão a reduzir?
07 – ASSET PLAYS
Qual o valor dos assets? Há hidden assets?
Quanta divida existe para subtrair a esses assets?
A empresa está a contrair mais divida tornando os assets menos valiosos?
CONSELHOS PARA ESCOLHER AÇÕES
(P.231)

Entende a natureza do negócio e especifica as razões para investires nesse setor.
Grandes empresas têm movimentos pequenos e vice-versa.
Considera pequenas empresas se esperas que o negócio provenha de um produto específico.
Procura empresas pequenas que já tenham lucros e provas dadas e que o conceito pode ser replicado.
Suspeita de empresas com growth de 50% ou 100% ao ano e evita indústrias quentes.
Desconfia da diversificação.
Long shots raramente compensam.
Investe em empresas aborrecidas que Wall street não gosta.
Fast Growers de 20-25% ano, em indústrias sem crescimento, são as ideais.
Moat (Nicho).
Empresas em apuros com cotação deprimida ver a divida bancaria.
Preferir empresas sem dívida (essas não podem falir).
Buybacks.
Poucos institucionais no ownership.
Insider buys.
Não comprar com base no Book Value.
Quando em dúvida, não invistas!
Usa bastante tempo para estudar antes de investir.
Próximo artigo da série: PARTE 3 LONG TERM VIEW!
Na PARTE 3 deste livro vamos desenhar um portefólio. Vamos ver o peso, distribuição e número de stocks que o Peter Lynch considera interessante, consoante o objetivo e estratégia. Vamos aprender as vantagens e desvantagens do Stop Loss, e mais importante... quando vender uma Ação dependendo do tipo de ação que se trata.

… se gostaste do conteúdo, vai seguindo esta série, pois no final, vais poder baixar o eBook completo do Resumo Comentado do ONE UP ON WALL STREET!
CRONOLOGIA PETER LYNCH:
(continua! ...)
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