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ONE UP ON WALL STREET – Peter Lynch, Resumo Comentado - PARTE 1

  • Foto do escritor: danielagmportela
    danielagmportela
  • 19 de fev. de 2022
  • 11 min de leitura

INTRODUÇÃO


Nada mais motivador para começar o ano do que uma opinião sincera sobre os livros a ler em 2022, para quem quer começar a investir… e não só! Conhecer os métodos de um dos maiores investidores do nosso tempo, Peter Lynch, é uma honra que não podemos ignorar.


Neste “Resumo Comentado”, que funciona como uma espécie de curso de análise fundamental, vou-te ajudar a navegar neste livro, cuja tradução não consegui encontrar para português. Desta forma, vais ficar aqui com um resumo de todo o livro e com os meus cometários pessoais sobre ele. Tirei apontamentos de tudo o que era pertinente e vou-te entregar este Resumo Comentado, em português, para que te possas sentir mais próximo deste autor, que tantos falam, e que possas compreender melhor a mensagem de um dos maiores gestores de todos os tempos, que consistentemente bateu o mercado com um portefólio de ações bem equilibrado (diversificação e risco).


Poderás depois aprofundar o teu estudo, caso entendas, lendo o livro na integra, e vais ter acesso no final, ao download de um eBook com todo o conteúdo compactado.



PORQUÊ ESTE LIVRO?


Porque é uma referência internacional que apresenta a experiência, pessoal do gestor de um fundo de investimento (Magellan) que trabalhou para uma instituição (Fidelity), e que tem a experiência concreta, real, do mercado ao longo de muitos anos, e te está a fazer chegar de uma forma transparente esta informação. O Peter Lynch deixou o fundo Magellan em 1990 e deixou-te este legado em que podes perceber como é que ele teve sucesso para obter os retornos conhecidos (e auditados) desse fundo, enquanto ele o geriu.


A primeira edição é de 1989, já teve revisões claro, sendo a que vou comentar a de 2000 (que ele chama The millennium Edition) e ainda se mantém atual. O conteúdo mantém-se intemporal nas questões conceptuais e de princípios de investimento, e aplicáveis pelos investidores de todo o mundo.


O AUTOR PETER LYNCH


Peter Lynch nasceu em 19 de janeiro de 1944, em Newton, Massachusetts, nos Estados Unidos. Foi gestor do Magellan Fund, na Fidelity Investments entre 1977 e 1990, onde teve uma média de retorno anual de 29,2%, consistentemente mais do que o dobro do índice S&P 500 do mercado de ações, tornando-o o fundo mútuo de melhor desempenho no mundo. Durante seu mandato de 13 anos, os ativos sob gestão aumentaram de $ 18 milhões USD para $ 14 biliões USD.





O QUE SÃO FUNDOS MÚTUOS?

“Fundos mútuos oferecem oportunidades para diversos investidores, que compartilham objetivos de investimento semelhantes, de associarem seu dinheiro e tê-lo investido e gerido por gestores de investimento profissionais. Um fundo pode estar investido em ações, títulos e instrumentos financeiros com alta liquidez. Os gestores de carteira selecionam e administram os ativos nos quais o fundo esteja posicionado, e os investidores partilham dos rendimentos, despesas, e de qualquer ganho ou perda que o fundo incorra nesses investimentos, na proporção das suas cotas.”


COMO ESTÁ ORGANIZADO O LIVRO


O livro está dividido em três partes.


A primeira, PREPARING TO INVEST _ "Preparar para investir", trata de como te avaliares como um "stockpicker", como medir a competição (gestores de carteiras, investidores institucionais e outros especialistas de Wall Street), como avaliar se as ações são mais arriscadas do que as obrigações, como examinar as tuas necessidades financeiras e como desenvolver uma rotina de recolha de stocks bem-sucedida.


A segunda, PICKING WINNERS _ “Escolher vencedoras”, é sobre como encontrar as mais promissoras oportunidades, o que procurar numa empresa e o que evitar, como usar a informação dada pelos brokers, pelos anual reports e outros recursos para maior vantagem, e o que fazer com as mais variadas métricas (P/E ratio, Book Value, Cash Flow…)


A Terceira, THE LONG-TERM VIEW _ “A Visão de Longo Prazo”, é sobre como construir um portefólio, como seguir informações das empresas que tens interesse, quando comprar e quando vender uma stock, a tolice das opções e dos futuros e algumas observações sobre Wall Street e os mercados financeiros.


 



PARTE 1 – PREPARING TO INVEST


Nesta parte do PREPARAR PARA INVESTIR, o autor faz uma abordagem sobre alguns aspetos a ter em atenção e algumas métricas importantes que às vezes são erradamente interpretadas. Por exemplo:


BUYBACKS – Os buybacks consistem na empresa reduzir o número de ações no mercado, e que isso é um fator positivo porque vai aumentar os Earnings per share (EPS) ganho por ação.


Como? Porque os ganhos das empresas são reportados e esse número terá de ser dividido por menos ações que existem no mercado. Logo, quem tem ações ficará com essas ações valorizadas, pois para cada ação isso representará um ganho maior. Os shareholders não vão recolher este efeito no imediato, como acontece quando recebem dividendos, mas vão recolher depois quando venderem as suas ações. Digamos que é um benefício que se revelará a longo prazo. (P.19)


Até aqui todos os analistas aplaudem quando as empresas fazem buybacks, pois é isso que representa para os acionistas:


01 - Um sinal de que a empresa acredita que vale mais do que está a cotar.


02 - Um sinal de que a administração tem em conta os interesses dos acionistas, em lhes valorizar as suas ações.


 

_ COMENTÁRIO SOBRE O EPS (OPINIÃO PESSOAL)


O EPS (Earnigs per share) que todos aplaudem nos relatórios de contas e nos highlights dos press releases :


01 – Um aumento do EPS valoriza o custo a que se adquiriu as ações pela simples formula matemática de redução do denominador.



02 – Um aumento do EPS quando interpretado isoladamente, pode levar a uma falsa noção que aumentaram os ganhos reais da empresa (com mais vendas ou melhoria das margens) e isso pode não corresponder à realidade. A empresa simplesmente pode estar com ganhos flat e como comprou de volta ações, apresentar um EPS em linha com o que seria suposto ser o ganho para aquele ano, sem na realidade ganhar nada!


Vou explicar em detalhe: As empresas fazem a sua própria projeção de EPS para os anos futuros, e são obrigadas a mostrar e traçar os planos de recompra de ações (que terão de ser aprovados em assembleia e depois podem ser ou não executados). Caso corram mal os ganhos, a administração, num truque de maquilhagem, pode comprar ações e apresentar um EPS de acordo com o espectável. Será importante entrarmos em consideração com outras métricas e não ficar tão vidrados no EPS como um número mágico em si, pois muitas vezes é uma estratégia de velatura da própria administração. Para ajudar a perceber isso, nada como comparar os ganhos ano após ano, retirando os buybacks, ou por exemplo entrando em consideração com outras métricas que veremos mais à frente.


 

FUNDOS


O autor explica que os fundos são uma excelente invenção para pessoas que tem pouco tempo, e que não tem paciência para investigar ações e que procuram automaticamente estar diversificados num mercado. (P.32)


BACKGROUND DO INVESTIDOR


É preciso ter background em finanças para saber escolher as melhores ações?

Vou deixar as próprias palavras de um dos maiores analistas e investidores do mundo (Peter Lynch, claro), falarem por si.


“Evitei ciências, matemática e contabilidade ... todos os preparativos normais para os negócios. Eu estava no lado artístico da escola e, junto com a história usual, psicologia e ciência política, também estudei metafísica, epistemologia, lógica, religião e a filosofia dos Antigos gregos.” (P.49)


“Olhando para trás agora, é óbvio que estudar história e filosofia foi uma preparação muito importante para o mercado de ações, em vez de, diria eu, estudar estatística.”


“Investir em ações é uma arte, e não uma ciência, e pessoas que são treinadas para rigidamente quantificar tudo têm uma grande desvantagem…”.


 

_COMENTÁRIO SOBRE O BACKGROUND DO INVESTIDOR (OPINIÃO PESSOAL)


Peter Lynch não quer dizer que para investir em ações é necessário um feeling como se de apostas se tratasse… e sobre esse feeling (que é bem perigoso) iremos falar mais tarde. Ele apenas quer com isso dizer, que não interessa uma formação acadêmica em finanças para saber corretamente avaliar ações. Naturalmente as pessoas terão de aprender as bases, ou não existiria este livro. O que ele quer dizer… é que existem componentes e disciplinas na vida, bem mais importantes que a analise de métricas e gráficos, para se compreender o mercado e a estratégia de uma empresa. Uma empresa no papel pode estar a dizer uma coisa (nos seus números) mas haver toda uma condicionante e contexto que não vai fazer refletir esses números no mercado, e esses são os aspetos que temos também que ponderar… ou até mesmo ponderar em primeiro lugar, antes de perder tempo a analisar os números de uma empresa!

 

DESVANTAGENS DOS FUNDOS

(P.60)


01 – Fund managers compram a stock quando ela é popular e o CEO sai nas revistas. Compram quando já uma data de institucionais e analistas atirarem os price targets para cima.


02 – Por outro lado, poucos analistas cobrem ações pequenas (com pouca capitalização bolsista). As chamadas Small Caps.


03 – Alguns institucionais não permitem compra de ações de empresas que tenha Unions (sindicatos de trabalhadores). Outros, não investem em indústrias com pouco crescimento, de certos setores, como Utilities (eletricidade, oil, aço…). Alguns não podem comprar empresas começadas por R, ou talvez só possam ser adquiridas em meses com o R no seu nome (aqui o autor faz uma alusão em tom de piada ao consumo de ostras). A desvantagem mais clara que Lynch assinala para os fundos, é que eles têm chefias que limitam ao gestor investir no número de ações.


Lynch menciona que há fundos que só investem em 90 ou 100 empresas, e que à data existiriam 10 mil cotadas. Quer ele assinalar que há muitas mais oportunidades que não passam no radar nos fundos.


Imagina que geres um fundo de 1B (1 bilião de dinheiro de investidores no bolo total). Por exemplo, um fundo de pensões, e para que não tenhas performance divergente de outros fundos similares da mesma casa (senão depois vem bater-te à porta a perguntar porque aquele gerou retorno, e o outro que é igual não gerou), ou seja tem performance divergente. Lynch explica aqui que os gestores são pressionados para não terem performances divergentes (ver P.63). Então, para corrigir este aspeto, és obrigado a seguir uma lista pré aprovada de 40 ações, e no máximo ter 5% do capital alocado a cada uma. Ora, ter uma chefia a controlar o número de ações e quantidade onde podes investir (muita gente vende esta ideia, para replicar a estratégia destes fundos e isso já esta mais que provado que não bate o mercado) isso vai condicionar imenso esse fundo de 1B, porque…


- Tens de comprar até 20 stocks com 50M alocado em cada uma.

Nesse caso terias de procurar das listas que o chefe te deu, as empresas onde 25M representem menos de 10% das outstanding shares. Imensas oportunidades ficam de fora.


Um privado como tu ou eu, não tem limite de stocks e pode comprar a $19 USD o que vendeu a $11 USD, o que para um profissional seria registado e recriminado. Esta é a liberdade do investidor particular, e uma clara vantagem em relação às obrigatoriedades e interesses subjacentes ao objetivo final de entregar performances dos fundos.


BONDS (OBRIGAÇÕES)

(P.68)


US Treasury bonds com maturidade a 10 anos, são as chamadas T-bonds, é uma excelente forma de jogar com os interest rates (taxas de juro) porque as Obrigações não são “callables” ou pelo menos não o são até 5 anos antes da maturidade. As Bonds são um terreno mais estável e os devedores (quem emitiu a divida para o mercado, quem emitiu as obrigações) compram-nas de volta no momento que acham vantajoso, por exemplo caso os Interesst rate (taxas de juro) caiam. As obrigações corporativas podem estar sujeitas a isso, mas as T-bonds não.



Imagem: Taxas de Juro e inflação 10Y US Treasury Yields in Guide to the markets 2021 da JP Morgan



Ilustração de obrigação do Tesouro 10Y, cujo Principal vale 5000 USD e 4 cupões de 200 USD, destacáveis a receber em Fevereiro e Agosto de cada ano. A obrigação teria sido emitida em Agosto de 1976 e atingiria maturidade em Agosto de 1986. Data em que o portador receberia de volta o Principal.


Para usufruir da baixa das taxas de juro, é melhor investir em T-bons (obrigações emitidas pelo Estado) do que em coorporate bonds e municipal bonds.

Neste capítulo o autor menciona as vantagens do retorno do investimento em stocks Vs bonds, mas evidencia que investir em stocks tem à partida maior risco.


BLUE CHIPS

(P.72)


O termo blue chips deriva dos jogos de casino, em que as fichas azuis possuem valores maiores do que as demais. Dessa maneira, o nome blue chip é dado às empresas que possuem altos volumes de negociação. Geralmente, são grandes empresas, consolidadas e estabelecidas no mercado. Logo, as aplicações nesses ativos são consideradas como investimentos de primeira linha, pelos especialistas em investimentos.




O autor advoga que as Blue Chips não são milagre de segurança.


01 – Uma empresa grande pode tornar-se pequena.


02 – Compra a ação certa ao preço errado, na altura errada, e irás sofrer perdas grandes.


03 – Compra ações erradas na altura certa e o problema vai ser o mesmo.


Moral da história: O preço importa e para um investidor em valor importa e muito… mas isso já nos levaria para livros do Benjamim Graham que introduz o conceito de margem de segurança.


Exemplo: 1972-74 Bristol Myers caiu de $9 USD para $4 USD devido a assuntos conservadores. McDonalds foi dos $15 USD aos $4 USD.


O QUE SE DEVE FAZER ANTES DE COMPRAR AÇÕES

(P.78)


01 – Antes de comprar ações, o autor claramente recomenda que se compre um imóvel, uma casa para morar. Comentário pessoal: Ou um imóvel para investimento.

O mercado de ações deve ser usado para investir quando já se tem outros ativos garantidos, e um certo suporte financeiro. O dinheiro investido em ações não pode ser dinheiro que necessites no curto e no médio prazo.


Ele critica as pessoas por passarem meses a escolher as suas casas, e contratarem peritos para o efeito para avaliarem as condições do imóvel e sua possível recuperação. Obviamente para quantificarem gastos necessários nesse investimento e pior ainda demorarem bastante tempo a escolher um micro-ondas, a comparar características com os restantes existentes no mercado e em contrapartida, com uma empresa onde vão comprar ações, não dedicarem tempo algum no estudo e investigação necessários.


02 – Vou precisar desse dinheiro?


“Only invest what you could afford to lose, without that loss having any effect on your daily life in the foreseeable future.”


O conselho é de que podes investir em ações apenas se não vais necessitar desse dinheiro num futuro previsível, e sobretudo se está assimilado que és capaz de o perder.


As perdas só se efetivam aquando da venda dos ativos, mas acontece que há ativos, neste caso ações, que podem nunca mais retomar os valores do investimento inicial, e pior ainda, serem remetidos para mercados não regulados (Over The Counter) pela sua baixa liquidez, onde a qualquer momento, podem ter variações fortes na cotação, e a qualquer momento pode um maioritário fazer uma OPA e retirar a empresa da bolsa, oferecendo-te muito pouco pelas ações que tens.


03 – Tenho as qualidades necessárias para o sucesso?



CHECKLIST DAS QUALIDADES DO INVESTIDOR EM AÇÕES


- Paciência

- Auto confiança

- Senso comum (noção)

- Tolerância à dor

- Open Mind

- Desapego

- Persistência

- Humildade

- Flexibilidade

- Vontade de estudar (fazer investigação independente)

- Capacidade para admitir erros

- Habilidade para ignorar o pânico geral


Grande lição Peter Lynch nos dá e já estou neste momento a assinalar quais os atributos que tenho pessoalmente que trabalhar / desenvolver!


“Things insise humans make them terrible stock market timers.” Peter Lynch


Devemos disciplinar-nos a ignorar os nossos “Gut feelings” em vez de confiar neles. Coisas como “tenho a sensação de que esta stock vai subir”, ou “tenho um feeling que errei na altura que comprei isto, vou vender e comprar outra vez mais tarde.” - Devem ser pensamentos repudiados antes que atuemos com base neles.


RESUMO DA PARTE 1

(P.90)


01 – Não sobre estimar a habilidade e sabedoria dos profissionais.


02 – Tirar partido do que já sabes.


03 – Procura oportunidades que ainda não foram descobertas e certificadas por Wall Street (analistas, institucionais).


04 – Investe num imóvel, antes de investir no mercado de valores mobiliários em ações.


05 – Investe em empresas e não no stock market.


06 – Ignora flutuações de curto prazo.


07 – Grandes ganhos podem ser feitos com ações comuns, assim como grandes perdas.


08 – Prever a economia é fútil, assim como prever a direção do mercado no curto prazo.


09 – Os retornos de longo prazo das stocks são mais fáceis de prever do que os de longo prazo das bonds.


10 – Ações não é para todos, nem para todas as fases da vida de uma pessoa.


11 – Ter um edge irá ajudar-te a fazer dinheiro com as ações.


Na PARTE 2 deste artigo desenvolveremos os comentários sobre o que é o Edge profissional, que tipos de ações existem de acordo com as suas caraterísticas.


Não se podem tratar as ações de forma igual. Colocar as ações em categorias é a 1ª coisa que tens de fazer para saber que tipo de história de investimento estará ligada a cada uma delas e saber se essa história se vai concretizar.


(...continua)



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